Criação da Central Única de Favelas, em Brasília, é o ponto de partida para eventos como torneios de basquete de rua e de rap, que já mobilizam comunidades no DF
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Caroline Lasneaux
Da equipe do Correio
Gustavo Moreno/Especial para o CB
Grupo de ativistas do basquete de rua e do rap, na Ceilândia: “se a gente destacar a tristeza, a derrota será certa”
“Até no lixão nasce flor.” A frase de Nego Bila, um dos integrantes do grupo de rap PR-15, sintetiza a vontade do artista de promover mudanças na sociedade. “Essa frase nos dá a certeza de que precisamos sempre ter esperança. Se a Ceilândia é hoje um lugar marcado pela marginalidade, devemos fazer a nossa parte para mudar a situação”, diz.
O grupo formado por Nego Bila e outros 10 artistas da Ceilândia está prestes a gravar o primeiro CD. As canções falam de esperança e de força de vontade e exaltam o lado bom da cidade, considerada uma das mais das violentas do Distrito Federal. “A gente gosta de passar alegria nas músicas. A periferia já está destruída. Se a gente destacar a tristeza, a derrota será certa. Por isso, sempre enfatizamos o lado bom da nossa comunidade”, garante o rapper.
Além de se preparar para a gravação do álbum, que deve ficar pronto até o fim do ano, os artistas do PR-15 ainda se dividem na manutenção da Original J, organização não-governamental que se dedica à promoção de oficinas de rap, esportes e dança para crianças e adolescentes. “Ser rapper é trabalhar em busca de melhorias para os outros. Não adianta somente cantar músicas de protesto e não fazer nada. A gente precisa pôr a mão na massa e aprender a lutar pelos nossos irmãos”, convoca Nego Bila.
Com a mesma proposta de ir em busca de mudanças, a organização Central Única de Favelas (Cufa) foi fundada, em 1998, no Rio de Janeiro, pelo rapper MV Bill e pelo produtor Celso Athayde. Lançada oficialmente no DF no dia 2 de janeiro deste ano, a filial da Cufa começa a tirar do papel projetos de valorização da cultura da periferia da capital do país. “Percebemos que Brasília seria um bom lugar para fortalecer o elo criado pelas outras 18 Cufas do Brasil. Nossa intenção é dialogar com o governo e trazer soluções que agradem a todos”, esclarece um dos coordenadores da unidade do DF, Max Maciel. Para Nego Bila, a iniciativa dá mais força ao trabalho já desenvolvido pelo grupo de rap. “Para fazer o bem, quanto mais gente, melhor.”
A primeira ação da Cufa no DF será na semana de comemoração do aniversário de Brasília, quando haverá, na Praça do Cidadão, na Ceilândia, a Seletiva Estadual de Basquete de Rua (Sebar). O evento, nos dias 14 e 21 de abril, vai contar ainda com apresentações de grafiteiros, b.boys e grupos de rap e hip hop. “A idéia é fazer com que essa galera seja vista pelos moradores de Brasília. Queremos provar que existe muita coisa boa na Ceilândia”, anuncia outro responsável pela Cufa, o rapper Marcos Vinícios de Morais, mais conhecido como Japão.
Com carreira consolidada, Japão é um bom exemplo para quem está começando agora. Nascido e criado na Ceilândia, é um dos mais respeitados artistas de rap do país. Participou dos grupos Esquadrão MC’s, Gog e Viela 17. Em 2005, foi um dos homenageados no curta Rap, o canto da Ceilândia, documentário de Adirley Queirós sobre a trajetória de quatro rappers da cidade: Japão, X, Jamaika e Marquim. A fita ganhou o prêmio Candango de melhor curta, segundo os júris oficial e popular do 38º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, naquele ano.
Espelhado na carreira de Japão, Marcelo Ferreira, de 22 anos, enxerga na criação da Cufa no DF a oportunidade de dar continuidade a dois sonhos de infância: cantar rap e jogar basquete. “Tento conciliar o esporte e o rap. São duas maneiras excelentes de fugir da bandidagem. Já que a sociedade não nos oferece dignidade, temos que ir atrás dela por nós mesmos”, afirma o rapaz, que teve vários amigos envolvidos com drogas e violência. “A gente só ouve falar dos colegas quando são presos. Queremos que cheguem aos nossos ouvidos mais histórias de sucesso e realização”, completa Japão.
Se depender de Marcelo, a imagem negativa da Ceilândia será substituída pela idéia de um lugar de superação. “Quando era criança, como não havia quadras esportivas perto de casa, brincava de fazer cestas em latas de lixo. Às vezes, faltava até a bola para jogar. Hoje, a situação ainda é precária, mas tenho certeza de que, com a união de todos, poderemos mudar essa história”, acredita o artista. “Se há 20 jovens aqui jogando basquete ou cantando rap, são 20 jovens a menos na criminalidade. Não somos garotos sem futuro. Sei que temos estrelas brilhando e que muitas portas serão abertas para nós”, completa Marcelo.
Futuro
A intenção da Cufa-DF é dar vida a praças, quadras de esportes e centros culturais, com a realização de projetos esportivos, oficinas musicais e audiovisuais. Depois da Ceilândia, o objetivo da organização é trabalhar em comunidades da Estrutural, Planaltina e Águas Lindas de Goiás. “Antes de iniciar os trabalhos, fizemos pesquisa com jovens do DF para saber quais eram as principais queixas e sonhos deles. A maioria reclama de falta de oportunidade, lazer, estudo”, conta Max Maciel.
Por isso, depois da Sebar, que vai selecionar os melhores times masculino e feminino para disputar a Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra), evento extra-oficial aos jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, a Cufa planeja um seminário sobre o impacto do machismo na violência juvenil. Também está previsto para este ano o início das projeções do Cine Cufa Perifa, mostra permanente de filmes e discussões em escolas. No dia 4 de novembro, a organização promoverá a comemoração do Dia da Favela, com festival de cultura hip hop.
CENTRAL ÚNICA DE FAVELAS
Inscrições para a Sebar até 15 de março, pelo site www.culturahiphop.com.br/sebar
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Caroline Lasneaux
Da equipe do Correio
Gustavo Moreno/Especial para o CB
Grupo de ativistas do basquete de rua e do rap, na Ceilândia: “se a gente destacar a tristeza, a derrota será certa”
“Até no lixão nasce flor.” A frase de Nego Bila, um dos integrantes do grupo de rap PR-15, sintetiza a vontade do artista de promover mudanças na sociedade. “Essa frase nos dá a certeza de que precisamos sempre ter esperança. Se a Ceilândia é hoje um lugar marcado pela marginalidade, devemos fazer a nossa parte para mudar a situação”, diz.
O grupo formado por Nego Bila e outros 10 artistas da Ceilândia está prestes a gravar o primeiro CD. As canções falam de esperança e de força de vontade e exaltam o lado bom da cidade, considerada uma das mais das violentas do Distrito Federal. “A gente gosta de passar alegria nas músicas. A periferia já está destruída. Se a gente destacar a tristeza, a derrota será certa. Por isso, sempre enfatizamos o lado bom da nossa comunidade”, garante o rapper.
Além de se preparar para a gravação do álbum, que deve ficar pronto até o fim do ano, os artistas do PR-15 ainda se dividem na manutenção da Original J, organização não-governamental que se dedica à promoção de oficinas de rap, esportes e dança para crianças e adolescentes. “Ser rapper é trabalhar em busca de melhorias para os outros. Não adianta somente cantar músicas de protesto e não fazer nada. A gente precisa pôr a mão na massa e aprender a lutar pelos nossos irmãos”, convoca Nego Bila.
Com a mesma proposta de ir em busca de mudanças, a organização Central Única de Favelas (Cufa) foi fundada, em 1998, no Rio de Janeiro, pelo rapper MV Bill e pelo produtor Celso Athayde. Lançada oficialmente no DF no dia 2 de janeiro deste ano, a filial da Cufa começa a tirar do papel projetos de valorização da cultura da periferia da capital do país. “Percebemos que Brasília seria um bom lugar para fortalecer o elo criado pelas outras 18 Cufas do Brasil. Nossa intenção é dialogar com o governo e trazer soluções que agradem a todos”, esclarece um dos coordenadores da unidade do DF, Max Maciel. Para Nego Bila, a iniciativa dá mais força ao trabalho já desenvolvido pelo grupo de rap. “Para fazer o bem, quanto mais gente, melhor.”
A primeira ação da Cufa no DF será na semana de comemoração do aniversário de Brasília, quando haverá, na Praça do Cidadão, na Ceilândia, a Seletiva Estadual de Basquete de Rua (Sebar). O evento, nos dias 14 e 21 de abril, vai contar ainda com apresentações de grafiteiros, b.boys e grupos de rap e hip hop. “A idéia é fazer com que essa galera seja vista pelos moradores de Brasília. Queremos provar que existe muita coisa boa na Ceilândia”, anuncia outro responsável pela Cufa, o rapper Marcos Vinícios de Morais, mais conhecido como Japão.
Com carreira consolidada, Japão é um bom exemplo para quem está começando agora. Nascido e criado na Ceilândia, é um dos mais respeitados artistas de rap do país. Participou dos grupos Esquadrão MC’s, Gog e Viela 17. Em 2005, foi um dos homenageados no curta Rap, o canto da Ceilândia, documentário de Adirley Queirós sobre a trajetória de quatro rappers da cidade: Japão, X, Jamaika e Marquim. A fita ganhou o prêmio Candango de melhor curta, segundo os júris oficial e popular do 38º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, naquele ano.
Espelhado na carreira de Japão, Marcelo Ferreira, de 22 anos, enxerga na criação da Cufa no DF a oportunidade de dar continuidade a dois sonhos de infância: cantar rap e jogar basquete. “Tento conciliar o esporte e o rap. São duas maneiras excelentes de fugir da bandidagem. Já que a sociedade não nos oferece dignidade, temos que ir atrás dela por nós mesmos”, afirma o rapaz, que teve vários amigos envolvidos com drogas e violência. “A gente só ouve falar dos colegas quando são presos. Queremos que cheguem aos nossos ouvidos mais histórias de sucesso e realização”, completa Japão.
Se depender de Marcelo, a imagem negativa da Ceilândia será substituída pela idéia de um lugar de superação. “Quando era criança, como não havia quadras esportivas perto de casa, brincava de fazer cestas em latas de lixo. Às vezes, faltava até a bola para jogar. Hoje, a situação ainda é precária, mas tenho certeza de que, com a união de todos, poderemos mudar essa história”, acredita o artista. “Se há 20 jovens aqui jogando basquete ou cantando rap, são 20 jovens a menos na criminalidade. Não somos garotos sem futuro. Sei que temos estrelas brilhando e que muitas portas serão abertas para nós”, completa Marcelo.
Futuro
A intenção da Cufa-DF é dar vida a praças, quadras de esportes e centros culturais, com a realização de projetos esportivos, oficinas musicais e audiovisuais. Depois da Ceilândia, o objetivo da organização é trabalhar em comunidades da Estrutural, Planaltina e Águas Lindas de Goiás. “Antes de iniciar os trabalhos, fizemos pesquisa com jovens do DF para saber quais eram as principais queixas e sonhos deles. A maioria reclama de falta de oportunidade, lazer, estudo”, conta Max Maciel.
Por isso, depois da Sebar, que vai selecionar os melhores times masculino e feminino para disputar a Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra), evento extra-oficial aos jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, a Cufa planeja um seminário sobre o impacto do machismo na violência juvenil. Também está previsto para este ano o início das projeções do Cine Cufa Perifa, mostra permanente de filmes e discussões em escolas. No dia 4 de novembro, a organização promoverá a comemoração do Dia da Favela, com festival de cultura hip hop.
CENTRAL ÚNICA DE FAVELAS
Inscrições para a Sebar até 15 de março, pelo site www.culturahiphop.com.br/sebar
Informações: cufadf@gmail.com.
Um comentário:
Blog massa!Temas bem interesantes!
Falam tanto da violencia do jovem,mas o jovem brasileiro não nasce violento,uma maquina pronta para roubar,matar e destruir.É um processo,que envolve varias causas, e dentre elas estão a desigualdade social a falta de escolaridade e a desestruturação familiar.A falta de perspectiva de vida por parte das pessoas é enorme.
Fé em Deus que um dia tenhamos uma sociedade igualitaria!
Abração!
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